domingo, 13 de setembro de 2009

2º fase do Concurso - Concluída

Everything has a start.



-“Jacob, não!” - afirmei, desejando que os meus olhos transmitissem a firmeza que o meu coração sentia.
-“Bella, por favor” - suplicava - “por favor, não me faças isto”.
-“EU TENHO!” - gritei, como se esse acto fosse sinónimo de melhor percepção - “Eu tenho de fazer isto Jacob, por favor, não o tornes mais complicado”.
-“Eu prometo Bella, eu prometo que nunca mais…”
-“COMO?” - a minha voz exaltou-se, uma vez mais; respirei fundo, de modo a acalmar-me - “Não podes garantir o futuro Jacob…infelizmente”
Perante a veracidade das minhas últimas palavras, o seu rosto alterou-se para um espanto irreconhecível, fazendo-o vacilar. Apesar de o magoar, tudo aquilo que dissera até agora tinha um fundo de verdade…um fundo que, há 5 anos atrás, nenhum dos dois pensara existir.

* FLASHBACK *

As montanhas erguiam-se no alto, recortando o céu como uma tesoura pela primeira vez nas mãos de uma criança. A acompanhá-las, várias nuvens negras insistiam em tornar o clima de Forks extremamente húmido, independentemente da estação do ano em que nos encontrássemos. Como forma de provar mais uma vez a sua existência, chuva miúda precipitara do céu, tornando o solo escorregadio e instável.
Naquele dia, o clima chuvoso, considerado por todos um mau presságio, apresentava-se com uma função diferente e desconhecida. As suas evidências apontavam para um perigo imediato e sorrateiro, apenas à espera da oportunidade ideal para se manifestar.
Encontrávamo-nos num planalto árido e deserto, composto, essencialmente, por estradas degradadas de alcatrão. A pouca vegetação existente era rasteira e seca, apesar do clima húmido que aí se fazia sentir. Acima de tudo, a paz que existia pretendia aí permanecer.
De repente, um riso límpido e puro calou todos os sons da natureza. Sentia-me a ser elevada, pela cintura, ao ar, terminando depois com o seu corpo colado ao meu e com a sua respiração ofegante a inebriar-me os sentidos, uma vez mais.
-“Jacob…” - principiei, em forma de aviso - “Tu prometeste que me ias ensinar!”
-“Mas não prometi que só ia fazer isso…” - disse, iluminando-me com o seu sorriso torto e, ao mesmo tempo, extremamente convidativo.
A seu lado, o mundo parava; sempre fora assim e sempre o será, graças às nossas inúmeras promessas. Perdida em lembranças, o facto dele se inclinar cada vez mais na minha direcção passou-me despercebido. O seu olhar alcançou o meu e a minha sobrancelha ergueu-se uma vez mais em aviso. Num gesto rápido, mas sentido, os seus lábios encostaram-se aos meus.
-“Vamos” - decidiu, piscando-me o olho de seguida.
A sua mão agarrou a minha e assim permaneceu enquanto nos dirigíamos para as duas motas que se encontravam ao lado da minha velha e ferrugenta pick up.
-“Portanto…montar e andar?” - perguntei, na minha falsa inocência.
Consegui arrancar-lhe mais um sorriso, dos mais belos de sempre. Com uma paciência infinita, ensinou-me a teoria, deixando a prática para cada vez mais tarde, com medo do resultado.
-“Acho que é tudo”
-“Boa, já posso?” - perguntei, ansiosa.
-“Humm, penso que sim” - respondeu, nervoso - “Mas é melhor eu ir também. Por favor, faz tudo exactamente igual ao que eu fizer”
-“Claro” - tranquilizei-o.
Os segundos seguintes foram movidos a câmara lenta, como que para prolongar o sofrimento que eu sentia ao metade da minha alma ser despedaçada. Jacob encontrava-se na frente, de forma a eu imitar todos os seus movimentos. Inadvertidamente, a roda da frente da minha mota ficou presa num buraco, fazendo com que esta desse uma cambalhota e me projectasse vários metros à frente. A partir daí, o mundo transformou-se num borrão preto.

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Os seus olhos permaneceram entreabertos até se habituarem totalmente à claridade que aí se fazia sentir. A sua expressão continuava confusa e distante, numa forma irreparável de confirmar os meus maiores receios.
-“Onde estou?” - balbuciou.
-“No hospital, Jacob” - respondi, tentando ser o mais meiga possível.
-“Jacob?” - perguntou, desorientado - “Quem é esse?”
Suspirei, deixando que as lágrimas inundassem o meu rosto. A mudança de realidade abrupta começava-se a tornar insustentável, já no início. Revivi, uma vez mais, o momento em que me fora contada toda a verdade, aquela verdade que me faria sofrer de uma forma incalculável.
“O acidente causou-lhe lesões permanentes” - principiou uma voz monocórdica - “Iremos tentar fazer terapia, mas ele nunca mais será o mesmo. Lamento.”
Um toque suave no meu rosto chamou-me de novo à razão. A mão de Jacob secava as minhas lágrimas, apesar de estas insistirem em cair.
-“Eu lembro-me de ti” - disse, com uma esperança escassa no olhar - “mas não consigo….”
-“Shhh”
- interrompi - “Vai tudo ficar bem” - garanti, numa forma de me convencer a mim mesma.

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Com o passar dos anos tive a sensação que o inferno realmente existia. Os ataques de Jacob eram cada vez mais frequentes; de tal forma frequentes que os gritos e os escândalos passaram a fazer parte da nossa rotina diária. As ameaças à minha vida eram constantes e repetitivas, bem como as mais belas demonstrações de carinho. O seu humor passara a ser inconstante e repentino, deixando qualquer pessoa que estivesse a seu redor assustada.
Acima de tudo, eu amava-o. Foi esse o sentimento que eu insisti em preservar na minha mente, até ao dia em que todos os limites foram ultrapassados. Num acesso de loucura, ou desespero, Jacob agrediu fisicamente o meu pai, quando este tentava defender o seu bem mais precioso: a minha vida.
O amor que eu sentia fora transformado em ódio e desilusão. Sem pensar, saí a correr de casa.

* FIM FLASHBACK *

O seu vulto transformava-se, cada vez mais, numa miragem.
-“Adeus Jacob” - murmurei, tomando uma decisão definitiva.

1 comentário:

  1. Adulteraste-me o olhar com esta história e com estas tuas palavras, porque se há coisa que ue não consigo fazer neste momento é retirar os olhos deste grande ecrã.

    Sabes o sinónimo de soberbo? O sinónimo de espantoso? O sinónimo de magnífico e ainda o de arrebatador? Se não sabes devias ir saber, porque são esses sinónimos que me ocorrem em pensamento quando vislumbro este texto.

    Tens uma imaginação incrivel! Acho que nunca me passaría por este pequenino cérebro a ideia de escrever um texto como este baseando-me apenas na imagem acima.

    Muitos parabéns! :D
    Adoro a maneira como escreves, as palavras que usas e o contexto em que consegues usá-las sem tecer qualquer confusão. E já para não falar da história em sim...que não deixa de ser formidável.

    Espero que continues assim...
    Eu não sou júri desses concurso, mas mesmo sme ter visto os textos dos outros candidatos punha-te logo em 1º lugar :)

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